Crise: Adoecimento ou Oportunidade?
- By George Alexandre
- 23 de mai. de 2019
- 4 min de leitura

De forma inesperada e paradoxal surge a necessidade de ressignificar algo, algo que não sabemos ainda, e que, até então era completamente inexistente, passando a incomodar e ao mesmo tempo nos impulsionar para algo algum lugar, objetivo, mas o problema é que não sabe ao certo, porque isto, ainda é algo que não sabemos denominar, decodificar ou mesmo nomear, na verdade nem sequer pode ser representado ou mesmo sentido, pelo menos por agora, isso é que dizemos que é, o irrepresentável, é o inominável.
Examinando textos artigos e outros, é possível nos depararmos com contribuições extraordinárias a respeito do assunto em questão, a palavra crise originou-se do vocábulo grego “krisis” que tem por significado: distinção, decisão, sentença, juízo e separação, sendo adotado pela ala medica como o significado de algo ruim e traumático. O estudo da teoria das crises desenvolvido por Caplan (1980) e colaboradores, cuja leitura sobre crise é a seguinte: “um período de desorganização de um sistema aberto”.
E o que isso quer dizer? Na verdade são algumas circunstancias que superam a capacidade do indivíduo naquele momento, desestabilizando seu emocional, ou seja, afeta a capacidade de controle sobre suas emoções, podendo ser ou não passageira, no caso negativo, sua permanência prejudica e mina a homeostase, o equilíbrio psíquico e emocional do sujeito, afetando sua relação consigo mesmo e com o meio em que se relaciona.
Mas de onde vem essas crises? A origem da crise na maioria das vezes é, uma experiência em que, algo insuportável ocorre, deixando aquela sensação de que, não há nada que possa fazer frente a angustia que se instalou, quem vivencia ou vivenciou esses momentos, afirma que é como se, de um momento para o outro um abismo se apropria-se do interior da pessoa, um vazio sem precedentes, gerando perda de sentido e a perda das principais ligações ou relações, um desemprego, uma doença que evolui para quadros difíceis e possivelmente a morte, crises que surgem em períodos de transição, como a adolescência, a gravidez, o envelhecimento, situações “estressantes” da vida cotidiana, como enfrentar a rotina diária ou semanal, divorciar-se, uma mudança de profissão que não deu certo, um investimento que não resultou o esperado etc.
“O trauma consiste em um acontecimento da crise que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogênicos duradouros que provoca na organização psíquica”
(Laplanche & Pontalis, 1986, p.678).
Com isso, a sensação de que, nossa capacidade de realização, foi de uma hora para outra completamente esvaziada, como algo que se rompeu ou irrompeu-se internamente, comprometendo e prejudicando a capacidade de encontrar sentido (elaboração), mas, ao mesmo tempo, de forma paradoxal surge a necessidade de ressignificar, algo até então completamente inexistente passa a incomodar e impulsionar, o problema é que isto ainda é algo que não sabemos denominar ou mesmo nomear, pois ainda não tem representações ou mesmo sentido, é o irrepresentável, é o inominável.
A angústia resulta por estarmos diante de algo que, por mais que busquemos palavras para decifrar, não são suficientes, palavras ditas, parecem ser nada mais do que palavras e uma vaga tentativa de definir algo, que ainda não sabemos o que é, e como somos sujeitos habituados a ter o controle, o conhecimento e o domínio, definir algo que, como já dissemos, não possui representação e que não pode ser constatado no plano dos sentidos e das sensações, é um sofrimento psíquico.
É como se, o estado mental fosse tomado por uma sensação de inutilidade, dentre as sensações pode se destacar, a impossibilidade de apreender, do elaborar, ficamos com o sentimento de que a nossa própria vida está escapando, ou uma experiência de perda de seus sistemas de referência (valores que parecem não fazer mais nenhum sentido), sem contar com a constante ameaça de perda da própria identidade que pode surgir de forma imprevisível, uma situação completamente inesperada, as vezes sem a menor aparência de ameaça.
Agora, tudo também, pode ser visto, como uma possibilidade, ou uma necessidade de adaptação, de readaptação ou de reação diante dos estímulos internos (sentimentos e emoções) ou externos (situações além de nosso controle), sim, é possível considerar a crise também por uma perspectiva positiva, impulsionando o sujeito a sair de seu status quo, sua zona de conforto, conduzindo-o para um novo significado e uma reformulação dos temas vitais.
É importante ressaltar o potencial intrínseco que o momento de crise, nos proporciona, a chance que este momento oferece para uma transformação, para uma oportunidade de desvio ou de alinhamento de rotas, pois embora toda essa vivência de sofrimento, angústia e invasão seja uma marca importante da crise, podemos também caracterizá-la por uma possibilidade de metamorfose, que vem na mesmo proporção do sofrimento, a possibilidade de saída de um lugar que se cristalizou, para um outro lugar a ser simplesmente descoberto ou reconstruído.
A experiencia diz, que após superado, o indivíduo se vê em um novo patamar, descobre então, que de fato, não se tinha consciência de seu verdadeiro potencial, da capacidade real de realização, a crise obriga o sujeito a se mover, a se desprender, podemos afirmar que ela coloca a pessoa em um processo de ressignificação, lembre-se toda crise possui três elementos, uma solução, um prazo de validade e uma lição para a vida.
Referencias
Caplan, G. (1980). Princípios de psiquiatria preventiva. Rio de Janeiro: Zahar
Ferigato H. Sabrina, Campos O. T. Rosana. Ballarin L. G. S. Maria: O atendimento à crise em saúde mental: ampliando conceitos
Boff, L. (2002). Crise - Oportunidade de crescimento. Campinas: Verus
Laplanche, J., & Pontalis, J. (1986). Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.
Knobloch, F. (1998). O tempo do traumático. São Paulo: Educ.
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